Cachorros são capazes de amar?

agosto 10, 2014

Cachorros são capazes de amar? Veja o que dizem os especialistas

Durante anos, os cientistas e comportamentalistas caninos têm debatido muito sobre a ligação entre o cachorro e seu dono, alguns acreditavam que a relação entre cachorro e proprietário não seria nada mais do que a uma necessidade básica dos cães em sentirem-se protegidos e receberem em troca de sua dedicação e obediência, alimento e segurança.

Sem dúvida, a maneira como nossos cães se relacionam com sua família traz consigo uma bagagem de suas raízes primitivas. Na natureza, os laços sociais estreitos entre membros da alcateia são essenciais para a sobrevivência. Um grupo de lobos, continua unido por toda sua a vida e tem uma hierarquia familiar muito bem estruturada. Lobos gama, abordam os lobos alfa e beta, com gestos de respeito, como lamber o rosto, balançar a calda e também utilizam uma postura corporal mais baixa como demonstração de respeito.

O relacionamento entre lobos com a mesma classe hierárquica, pode ser mais agressivo, e ao mesmo tempo mais animado. Os lobos brincam latindo, pulando, e o relacionamento entre eles são muito semelhantes à amizade entre pessoas. Membros da alcateia protegem uns aos outros e são muito leais. O grupo inteiro contribui para a alimentação e criação dos filhotes. Casais e seus descendentes dormem juntos, se aconchegam colocando um a pata em volta um do outro. Se um lobo é ferido em uma caçada, os outros levam comida para ele, lambem suas feridas, cuidando dele até que volte a ter saúde.

Já os nossos cães domésticos modernos, continuam reproduzindo esses comportamentos com sua família humana, que são, essencialmente, o seu novo bando ou família.

Mas a questão aqui é, será que nossos cachorros são capazes de amar seus familiares? Ou será que a forma com que eles interagem com sua família é resultado de uma instinto natural de sobrevivência?

Será que seu cachorro realmente ama você?

As vezes uma pessoa fica doente e é muito comum que o cão da família não queira sair de perto desta pessoa. Eles ficam em vigília e demonstram claramente que não querem sair de perto desta pessoa. Nós amamos nossos cães, e eles realmente parecem nos amar, mas será que um cachorro é de fato capaz de sentir estas emoções? Será que o amor de um cachorro para com sua família é o mesmo amor que conhecemos? Ou será que estamos apenas projetando nossos sentimentos humanos em nossos cães?

Alguns cientistas e especialistas em comportamento canino acreditavam que os cães não sentiam emoções reais, mas sim, agiam por um instinto natural. Se este fosse o caso, então, quando um cachorro que abana o rabo e late animadamente para seu dono quando ele chega em casa, estaria realizando simplesmente uma saudação estereotipada a um membro superior de seu bando. E sendo assim, quando um cão faz a vigília do leito de seu proprietário, estaria também, apenas atendendo a um instinto natural para a sobrevivência de seu bando.

Mas será que é possível acreditar que quando seu cachorro olha dentro de seus olhos ele realmente não quer dizer que te ama?

Um estudo antigo a respeito do modelo comportamental de afeto canino, sugeria que os cães aprendem a amar porque nós inconscientemente ensinamos nossos cães a amar. Segundo este estudo, nós, na verdade, ensinaríamos nossos cachorros a abanar o rabo, a lamber e fazer expressões faciais para nós, recompensando-os com carinhos e petiscos. Nosso hábito humano de comparar nossos animais baseando seu comportamento com nossas emoções é o que nos levaria a interpretar o comportamento de nossos cachorros como amor. Os especialistas responsáveis por este estudo diziam que os cães provavelmente não sentem o amor da forma típica que nós sentimos. Cães investem na parceria com pessoas porque esta parceria funciona muito bem para eles. Segundo eles, o cachorro compreende que quanto mais eles nos agradam, nós sentimos mais que eles nos amam. Na mente dos cães eles nos agradam a fim de receber mais atenção e guloseimas.

Steven Budiansky, autor do livro “A verdade sobre os cachorros” – (em tradução livre), dá um passo à frente. Ele sugere que os cães, em virtude de seu sistema social intensamente hierárquico, são tão instintivos e “bajuladores” que percebem antecipadamente, exatamente o que é preciso para chegar à liderança. Assim, de acordo com Budiansky, cães utilizam suas habilidades peculiares em suas inter relações com as pessoas em uma espécie de aprimoramento de sobrevivência do mais apto, ganhando assim, nossos corações, nossas casas, e uma vida de luxo que é uma circunstância inédita com relação a todos os outros integrantes do reino animal.

Será que o que o que vivenciamos com nossos cães não é amor?

Mas será que o fiel amigo que senta-se pacientemente ao lado de seu dono doente, ou o cachorro que executa repetidamente um resgate no mar, todas as demonstrações de lealdade, companheirismo altruístas, na verdade estariam apenas esboçando uma reação instintiva e ardilosa, pois nossos cães desejam alguma coisa de nós?

Para qualquer proprietário de cachorro é impossível acreditar que o afeto de seu cão não seja algo real.

Nosso cachorro parece saber quando estamos nos sentindo para baixo e costumam ampliar suas atenções nesses momentos, não é verdade? Meus cães demonstram para mim quando não estão satisfeitos com alguma coisa e também deixam bastante claro quando estão felizes com uma comida, um brinquedo ou uma situação. É claro que nós conversamos com eles da nossa maneira, eu sei tudo a respeito dos meus cachorros. Eles costumam ser obedientes quando peço para fazerem alguma coisa e ficam nitidamente felizes por fazer o que lhes peço. Meus cães reconhecem meus amigos quando eles chegam em casa para uma visita e também são bem entusiasmados quando reencontram um cachorro que não viam a algum tempo. Como criei cães durante anos, às vezes um filhote que havia nascido aqui vinha nos visitar e imediatamente ficavam histéricos de felicidade, mesmo que já tivesse passado anos que não nos víamos, e o mesmo acontecia entre os cães. Recentemente a Agnes, uma cachorrinha que não víamos a 10 anos esteve aqui nos visitando e ela reagiu do mesmo jeito que reagia como quando era filhote, não somente reconheceu o local, mas também cumprimentou a todos aqui em casa com grande entusiasmo.

Se o amor de nosso cachorro não é exatamente o amor, no sentido humano complexo, certamente a conexão que temos com nossos cães e o apego profundo que sentimos por eles são reais. E na maioria dos casos, a lealdade que nossos cachorros demonstram por nós é algo incondicional. Cachorros não se importam com a sua aparência, nem se preocupam com relação ao seu humor. Você pode ignorar seu cão, xingar, ou até mesmo se esquecer de alimentá-lo, ele não irá guardar rancor. Seu cachorro é feliz por poder conviver com você e sua família, nos aceitam e valorizam pelo que somos. Este tipo de vínculo puro,sem julgamentos, sem grandes expectativas é o que se faz muito precioso para nós, que vivemos em um mundo complicado onde as relações entre pessoas andam cada vez mais superficiais. Nossos cães são nossos pequenos milagres.

Será que o que os cães sentem por nós é amor? Ou será que é algo ainda melhor?

Finalmente uma pesquisa recente, veio confirmar o que todos os donos de cães já sabiam intimamente. As reações que nossos cães tem, expressam de fato a experiência de amor e carinho. Cientistas da universidade de Emory na cidade de Atlanta que fica no estado da Georgia nos EUA, descobriram que a parte do cérebro que nós utilizamos e está associada às emoções é a mesma área que os cães utilizam em seu cérebro.

Portanto a resposta para nossa questão é sim, cães são verdadeiramente capazes de amar! Através de exames de ressonância magnética utilizando cães adestrados, os neurocientistas esperam provar que os cães são realmente capazes de demonstrar amor por sua família. Os exames foram realizados em mais de 10 cães treinados para permanecerem imóveis na máquina de ressonância magnética para que os pesquisadores conseguissem obter imagens nítidas dos cérebros deles, e para isso, tiveram que realizar os exames sem sedativo.

A pesquisa tomou por base um estudo anterior que já citamos aqui no blog, do mesmo grupo de neurocientistas que descobriram que os cães utilizam a mesma parte do cérebro dos seres humanos, o núcleo caudado, para demonstrar sentimentos (Para saber mais sobre esse assunto clique aqui).

Através destes estudos os pesquisadores esperam mostrar que nossos cães nos amam muito além de um instinto básico de sobrevivência, para receberem alimentos e atenção. Basicamente as mesmas coisas que nos levam a amar alguém, como conforto e laços sociais, fazem com que nossos cães nos amem.

Os resultados iniciais desta pesquisa foram publicados em um livro chamado: Como os cães nos amam: Um neurocientista e seu cão decodificam o cérebro canino – (em tradução livre)

No livro ele usa suas descobertas para argumentar que os cães, de fato, tem empatia com as emoções humanas e as experiências de amizade, de uma maneira semelhante com a das pessoas. Acredito que cachorros serem ou não, capazes de amar, talvez não seja nada mais nada menos do que uma questão de semântica.