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O que a ciência diz sobre os cachorros

Você sabe o que a ciência tem a dizer sobre os cachorros?

O animal que vive em maior proximidade das pessoas é sem nenhuma sombra de dúvidas o cachorro.

A nossa relação com os cães começou há mais de 15.000 anos atrás, aproximadamente no início da agricultura, ou mesmo um pouco antes.

Embora não seja possível determinar a contribuição exata dos cachorros para a edificação da civilização humana, também é difícil imaginar como as pessoas teriam tido capacidade de se reproduzir ou caçar outros animais sem a ajuda dos cães.

O que a ciência fala sobre os cães
O que a ciência fala sobre os cães

A muito tempo, pesquisadores têm se interessado em estudar os cães domésticos, Charles Darwin, naturalista inglês, nos anos de 1800 documentou o comportamento dos cães e utilizou-os como modelo para sua teoria da evolução, através da seleção natural.

Um dos pesquisadores mais notórios dos cachorros domésticos foi o zoólogo Konrad Lorenz, autor do livro – “E o homem encontrou o cão” –  ganhador do Prêmio Nobel em 1973, devido aos seus estudos a respeito do comportamento animal. Desde criança, o austríaco era apaixonado por cachorros e devido ao grande fascínio pelas interações entre cães e pessoas, tornou-se zoólogo e etólogo.

No ano de 1965, os geneticistas J.P Scott e J. L. Fuller, pesquisando o comportamento social dos cães, chegaram a conclusão após 15 anos de estudos, que o comportamento dos cachorros pode ser herdado de seus pais.

Atualmente, existem muitos estudiosos e cientistas ao redor do mundo, intrigados com questões em comum:

  1. Será que  os cães têm uma forma especial de inteligência?
  2. Quando os cães foram domesticados, como se tornaram diferentes de seus ancestrais, os lobos?
  3. Como os cachorros sentem suas emoções?

Nos tempos atuais, as informações a respeito dos cães são realmente consistentes, e alguns dos achados genéticos estão longe de ser óbvios,  fornecendo revelações surpreendentes sobre o melhor amigo do homem.

Veja também:

1 – De animais selvagens à animais de estimação

Por que os cães foram domesticados?

Provavelmente a domesticação dos cães não foi algo proposital. Os cães se tornaram animais habitantes dos lares de nossos ancestrais, muito antes de qualquer outro animal, assim que as pessoas começaram a se organizar para caçar, e deu-se início a agricultura, a mais de 10 mil anos atrás.

Análises de DNA comprovam que os cães são de fato descendentes direto do lobo. No entanto, observando o comportamento dos lobos modernos é difícil imaginar como o homem Mesolítico conseguiu se relacionar facilmente com um lobo pré histórico: por isso, uma das possibilidades é imaginar que existissem lobos com um temperamento mais dócil.

Uma das teorias é que este grupo particular de lobos mais “sociáveis” podem ter começado a olhar para as sobras perto de assentamentos humanos e, ocasionalmente, um de seus filhotes possa ter sido adotado pelos humanos; levar consigo filhotes de animais selvagens como animais de estimação era um costume comum entre caçadores-coletores.

O que a ciência diz sobre os cachorros
O que a ciência diz sobre os cachorros

Desta forma é possível imaginar que a convivência com esses filhotes trazidos pelo homem tenha sido bastante segura para as pessoas e com o passar do tempo a comunicação tornou-se intuitiva, possibilitando que as pessoas passassem a treinar estes animais. tornando-se úteis para ajudar seus proprietários como animais de guarda e caça.

Portanto é mais provável supor que a “domesticação” dos cães começou provavelmente de forma acidental, e certamente promoveu benefícios tanto para os lobos quanto para a humanidade, cuja aliança com o “agora cachorro” pode ter sido o fator primordial para a edificação da civilização humana.

Quando começou a domesticação dos cães?

A primeira evidência consistente é dada através de um túmulo, onde é hoje o norte de Israel, neste local foi encontrado o esqueleto de um homem que tem uma de suas mãos colocada sobre o esqueleto de um filhote.

Os ossos do animal possuem características diferentes das de um filhote de lobo da mesma época – especialmente as presas – e por isso acredita-se que se tratava de um cão. O fato de que ele estava junto a seu dono na tumba, sugere uma relação especial com o homem.

Por isso, nós sabemos que no momento histórico que data esta sepultura, cerca de 12 mil anos atrás, os cães já tinham um papel importante na sociedade. Mas os acontecimentos que levaram à domesticação completa dos cães ainda não estão claros: nós não sabemos ao certo quando ou a quanto tempo isso aconteceu.

Há alguns anos, um grupo de arqueólogos descobriu um crânio na Sibéria que parecia ser de um lobo em processo de domesticação, este crânio datava de aproximadamente 33 mil anos atrás. Embora este crânio exibisse uma forma nitidamente semelhante ao de um crânio de um cachorro, os dentes apresentavam uma aparência maciça que se assemelhava mais aos caninos de um lobo.

Outro crânio, descoberto na cidade de Goyet (Bélgica) mais de um século atrás, foi recentemente datado pelos paleontólogos de 31 mil anos atrás.

Mas será que estes caninos de trinta mil anos, podem ser considerados os ancestrais dos cães de hoje?

Talvez este não seja o cenário mais provável, talvez as primeiras tentativas de domesticação dos cães tenham falhado, já que as pessoas daquela época se viram obrigadas a se deslocar para o sul devido a última Idade do Gelo, que data entre 24 mil a 13 mil anos atrás. Assim, os cães provavelmente tiveram  que ser “reinventados” quando as condições climáticas melhoraram novamente.

2 – De que região do planeta descendem os cachorros?

Vestígios arqueológicos sugerem fortemente que uma primeira domesticação, ou, ao menos, umas das primeiros domesticações, ocorreu em algum lugar na Ásia Ocidental, na área que hoje chamamos de Oriente Médio.

Desde 2005, foi sequenciado o genoma completo do cão doméstico, e agora é possível reconstruir o caminho de domesticação através da comparação do DNA de diferentes tipos de cães, entre si e com lobos de diferentes partes do mundo

Estas comparações mostram que o DNA da maioria das raças de cães é mais parecido com o dos lobos do Oriente Médio do que qualquer outro, o que confirma as descobertas arqueológicas.

O que a ciência diz sobre os cachorros
De que região do planeta descendem os cachorros?

O Geneticista Peter Savolainen, do Instituto Real de Tecnologia da Suécia, no entanto, está convencido de que os cães vêm do sudeste da Ásia. Segundo ele, as espécies muitas vezes perdem a variedade da cadeia genética, devido ao fato de terem se espalhado para outras partes do mundo, por isso, uma maior variedade pode relatar o lugar de origem.

A maior parte da variação genética está localizada nos assentamentos ao sul do rio Yangtze, onde os cães têm tipos incomuns de DNA que podem resultar somente dos lobos locais; Cães europeus não têm o DNA estranho vindo dos lobos do Oriente Médio. De acordo com Savolainen, é a escassez de estudos arqueológicos no sudeste da Ásia que leva a falta de material arqueológico composto por ossos de cães que levariam à prova necessária para dar suporte à sua tese.

3 – O Papel do homem na evolução dos cachorros

A mão do homem selecionou cães de todas as formas e tamanhos

Durante os primeiros mil anos da convivência dos cachorros com o homem, os cães preservaram muitas das características de seus ancestrais selvagens, mesmo que seu comportamento precisasse ser diferente.

Foi aproximadamente a 5 mil anos que se começou a se desenhar esboços dos diferentes tipos de constituição física dos cães que conhecemos atualmente: galgos, de pernas longas e focinho longo, mastins de constituição forte como cães de guarda e vários tipos de cães terrier.

Durante muito tempo a criação de cães não seguia regras. As raças com registros de pedigree começaram a ser catalogadas e estabelecidas no final do século XIX.

A criação seletiva com base em “padrão da raça” em muito pouco tempo chegou a registrar mais de 400 raças de cães. Esta criação seletiva foi levada ao extremo, em alguns casos, chegando até a comprometer de certo modo o bem-estar dos cães de determinada raça.

O Papel do homem na evolução dos cachorros
O que a ciência diz sobre os cachorros – O papel do homem na evolução dos cachorros

O bulldog Inglês, por exemplo, passou por várias etapas seletivas, a fim de aprimorar algumas de suas qualidades, no entanto, acabou adquirindo uma forma física que dificulta um pouco sua mobilidade e também a respiração. Muitos exemplares desta raça, podem precisar de ajuda para acasalar e dar à luz.

Mas o perigo mais insidioso em algumas raças é sem dúvida o aparecimento de um número de doenças hereditárias causadas por endogamia excessiva.

Embora a diversidade genética dos cães em geral seja saudável, em algumas raças você não consegue encontrar indivíduos cuja relação seja mais distante do que entre primos de primeiro grau.

Esta redução na diversidade genética leva inevitavelmente a doenças hereditárias devido a uniões entre padreadores e matrizes que embora ambos, estejam aparentemente saudáveis, carregam cada um, uma cópia de um gene defeituoso.

Por exemplo, mais de 60% dos cães da raça Lancashire Heeler são portadores  de uma mutação, que pode conduzir à cegueira. Uma solução seria permitir que  houvessem alguns cruzamentos de cães desta raça com raças diferentes.

Criadores de cães já enfrentaram em suas criações problemas genéticos com algumas raças como o Dálmata, por exemplo. Estes problemas, são relacionados com o metabolismo, fazendo com que os cães de raça desenvolvam doenças como dermatite, cálculos nos rins entre outras. Através de cruzamentos de entre o Dálmata e o Pointer Inglês, por exemplo, o geneticista Robert Schaible da Universidade de Indiana conseguiu eliminar uma mutação negativa.

4 – As habilidades de cada raça de cachorro

O que a ciência diz sobre os cachorros
Como funciona o cérebro dos cachorros? – O que a ciência diz sobre os cachorros

Como funciona o cérebro dos cachorros?

  • Inteligência Social

Os cães sem dúvida, são os animais com maior capacidade para ajudar as pessoas.
É difícil convencer até mesmo os chimpanzés a seguirem gestos humanos simples, como por exemplo, um dedo apontado; enquanto que os cães nascem com um instinto natural para aprender o máximo possível sobre como as pessoas se comportam.

Cães são naturalmente fascinados pelas expressões dos rostos humanos: não só procuram sinais de aprovação ou desaprovação, mas eles também direcionam sua atenção a seu dono.

O zoólogo comportamental Florence Gaunet, descobriu que muitos cães seguem o “olhar” de seus proprietários cegos apesar de normalmente eles não lhes darem indicações significativas.

  • Compreender o seu mundo físico

Cães muitas vezes podem parecer ingênuos sobre o funcionamento do ambiente ao seu redor.
Em um estudo realizado pela psicóloga da universidade de Canterbury, Britta Osthaus , alguns cachorros foram submetidos a um experimento que oferecia a opção entre duas alças: apenas uma delas foi ligada a uma corda que tinha em sua outra extremidade algum tipo de alimento. A maioria dos cães, continuou a puxar a alça para mais perto do alimento, em vez de parar para entender o que era a corda que foi ligada ao alimento.

Os cães também parecem incapazes de pensar no antes e no depois, a reflexão entre passado ou fazer planos para o futuro. Isso explica por que os cães ficam muito frustrados quando ficam sozinhos: será que eles têm uma noção instintiva de que seu dono vai voltar?

  • Olfato

Os cães têm uma hipersensibilidade olfativa; eles de fato conseguem encontrar utilidades para a sua capacidade de sentir odores onde nós nem se quer podemos imaginar.

Por exemplo, alguns cães, são treinados para alertar os diabéticos quando o açúcar no sangue está  instável e atingiu um nível perigoso, chegando a acordar seu dono no meio da noite, se necessário.

Cães são treinados para encontrar drogas, detectar pacientes com câncer, conseguem sentir o medo, tudo isso através do olfato. Eles ainda podem rastrear, sendo amplamente utilizados em busca e resgate.

  • Mas por que os cachorros conseguem obter tanta informação através do olfato?

Na verdade, os cães diferente de nós, possuem um segundo sistema olfativo, o órgão vomeronasal, este órgão permite aos cães fazerem um verdadeiro raio x dos odores que encontram nos objetos e ambiente como um todo. Trata-se de  um par de condutos que se localizam de atrás dos incisivos superiores às narinas. Este órgão é pouco conhecido, mas é o responsável pela análise dos cheiros de outros cães e transmite a eles muitas informações precisas.

5 – Qual é a verdade sobre os cães?

Os cães não se ligam uns aos outros. A domesticação mudou radicalmente a ideia de “família” dos cachorros.

Para os lobos a família é de extrema importância; o biólogo David Mech, fundador e vice-presidente do International Wolf Center, explica que uma matilha de lobos típico consiste nos pais e seus descendentes adultos, que permanecem com eles para ajudá-los a crescer e criar as próximas gerações de filhotes.

Embora sejam descendentes de lobos, os cães não parecem ser capazes de organizar suas vidas de modo a ligar um ao outro dessa forma. Mesmo os cães em estado selvagem, como o Dingo Australiano, não formam base familiar e se reproduzem de forma independente.

Quanto aos cães domésticos, são as pessoas ao seu redor os elementos mais importantes de sua “família”, e não outros cães.

Certamente assim como no caso dos lobos, os cães identificam um “líder da matilha”, no entanto, o conceito de “hierarquia de dominância” foi aplicado aos cães de uma maneira completamente diferente do que a maioria das pessoas acreditam.

Dominância é uma maneira de descrever qual indivíduo entre dois animais tende a ganhar quando competindo por algo. Mas os animais (exceto talvez os primatas) não pensam em “posição dominante” como um fim em si mesmo.

A bióloga comportamental Rachel Casey, da universidade de Bristol, Inglaterra,  tem uma explicação mais simples. Para os cães cada encontro com um outro animal – incluindo os seres humanos – é motivado simplesmente pelo que está em jogo, ou seja, um petisco, um lugar no sofá ou um tapinha na cabeça.

É bem verdade, que este assunto pode gerar uma discussão bem acalorada entre alguns proprietários, tendo em vista que muitos cães exercem com bastante veemência sua posição de liderança na família. Mas de fato, não é o mesmo tipo de liderança que um lobo alfa exerce em uma matilha, mas sim uma forma autoritária de levar vantagem sobre outros animais da casa e até pessoas, impondo sua vontade.

Obviamente, cães escolhem suas táticas com base no que eles já sabem sobre o animal, ou as pessoas, mas eles não são motivados por um desejo de superioridade.

  • Cães não se sentem “culpados”

É compreensível que muitos proprietários de cães que chegam em casa e se deparam com marcas de dentes em seus sapatos favoritos, podem pensar que seus monstrinhos “se sentem culpados” pelo que ele fizeram.

Mas um experimento engenhoso realizado pela cientista cognitiva  Dra Alexandra Horowitz, autora do best seller ” Inside of a Dog: What Dogs See, Smell and Know” mostrou que os cães adotam o chamado “estado culpado”, mesmo quando o proprietário diga que seu cachorro fez algo que não deveria, mas de fato ele não fez.
O cão culpado é simplesmente uma forma de agir quando o cachorro acredita que será punido por alguma coisa, no entanto ele não possui a consciência do motivo pelo qual está sendo punido.

6 – Os cães e os seres humanos: os cachorros modernos não são apenas pets

O papel dos cães na sociedade humana mudou radicalmente ao longo dos últimos 100 anos.

Os cães de trabalho, por exemplo, são agora uma pequena percentagem, enquanto a maioria agora pertence apenas a empresas, com intuito de ser cães de proteção e segurança.

Embora seja muito natural ter em casa um cachorro simplesmente para desfrutar de sua companhia e natureza afetuosa, a ciência revela benefícios inesperados para a saúde dos proprietários.

O que a ciência diz sobre os cachorros
Os cães nos ajudam a entender melhor nossa saúde – O que a ciência diz sobre os cachorros

Acariciar um cachorro e falar com ele não é apenas algo agradável: um grupo de cientistas da Universidade de Pretória, na África do Sul, descobriu que a convivência entre donos e cães provoca um aumento da oxitocina, o “hormônio do amor”, e reduz a pressão arterial.

Mesmo apenas passear diariamente com seu cachorro pode surtir efeitos de bem-estar, pelo menos de três maneiras:

  • pelo próprio exercício;
  • pelo contato social com outros donos de cães;
  • e simplesmente pela exposição ao ar livre que oferece inúmeros benefícios a sua saúde.

 7 – Os cães nos ajudam a entender melhor nossa saúde

Os cães também contribuem para a saúde humana a partir de outro ponto de vista: eles nos ajudam a melhorar o nosso conhecimento sobre doenças hereditárias.

O DNA canino forneceu-nos dados sem preço sobre como os genes controlam o crescimento e sobre como suas avarias podem causar doenças.

Os genes dos cães são mais fáceis de decodificar que os genes humanos, que se assemelham em muitos aspectos, porque muitas das variações genéticas são isolados em raças específicas.

Ao comparar o DNA dos cães com pedigrees diferentes, descobriu-se ser muito simples isolar os genes responsáveis ​​pelas diferenças entre eles.

O Geneticista Carlos Bustamante, da Universidade de Stanford, mostrou recentemente que apenas 6 ou 7 regiões do DNA são responsáveis ​​por 80% das diferenças entre a altura e o peso das diversas raças.

Além disso, dentro de cada raça, a ausência de alterações no DNA torna mais fácil identificar quais genes são defeituosos em um distúrbio hereditário, como câncer ósseo comum em Galgos ingleses, Galgos em irlandeses e Rottweiler.

Aprofundando à ciência dos cães não só passamos a conhecê-los melhor, mas também passamos a entender mais sobre nós mesmos.

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